terça-feira, 21 de novembro de 2017

Brasil 2100: é possível olhar tão longe?

Para responder a essa pergunta temos que ter um entendimento do que é “olhar tão longe”. Se for imaginar um ou vários cenários possíveis a resposta é sim. Mas se for para tentar fazer uma previsão, a resposta é não. Isso porque se não temos condições de afirmar, com certeza, como será amanhã, quanto mais daqui a 83 anos.

No entanto, seria difícil utilizar os métodos tradicionais de construção de cenários para construir imagens em um horizonte tão distante, visto que, até mesmo as tendências de peso existentes atualmente, provavelmente não se manteriam como tendências em um horizonte tão distante. O processo teria que ser mais criativo, usando a imaginação para construir essa visão de futuro. Um processo que seja capaz de romper com as amarras do presente e exercer uma imaginação semelhante às das crianças quando criam mundos e personagens quando brincam.

Por exemplo, em 2010, quando minha neta tinha 5 anos perguntei como seria o futuro e ela respondeu: “vamos voando para todo lugar sem avião, vou criar meus brinquedos em casa, vou entender tudo que todos falam, mesmo os desenhos que falam diferente e todos nós vamos passar mais tempo juntos”.

Vocês conseguem imaginar esse futuro? Máquinas voadoras para curtas distâncias; impressoras 3 D, imprimindo os brinquedos e tudo mais; tradução simultânea; e redução da jornada de trabalho. Será que o futuro será muito distante do que ela imaginou?
Mas para que serviria olhar tão longe?

Muito simples, para imaginarmos, por exemplo, saídas para a crise atual. Quando conseguimos sair de dentro do problema e analisamos ele do lado de fora, as soluções emergem. Em 2100, poderemos estar até passando por uma crise, mas certamente não será a mesma vivida hoje. Os desafios serão muito diferentes. Além disso, olhando para horizontes distantes conseguiremos também enxergar o que será realmente importante e teremos condições de abandonar projetos do passado para investirmos no que será importante no futuro e, assim, resolvermos efetivamente os problemas atuais saindo do looping de que nos leva a correr o tempo todo atrás do prejuízo.

Entretanto, para olharmos horizontes tão distantes temos que tomar algumas precauções, como por exemplo:

Checar se estamos sendo realmente criativos. O uso de nossa imaginação é chave, mas, as vezes podemos desenvolver pontos cegos e cairmos na armadilha da projeção de situações no presente ou da realização de simulações dessas situações, repetindo, assim, o mesmo modelo existente hoje que poderá não existir ou se viável no futuro. Pense: se projetássemos o mundo de 1924 para 2017, os cidadãos daquela época seriam capazes projetar o mundo que vivemos hoje? Em 1924 nem se imaginava, por exemplo, a existência da internet, não fazia parte nem dos projeto do Departamento de Defesa americana, berço da internet.

Desprender-se do momento atual. Procurem não ficar presos aos problemas que enfrentamos hoje, mas imaginar como as nossas necessidades serão atendidas no futuro, independentemente do existente hoje. 

Imaginar histórias de futuro que auxiliem no processo decisório. Lembrem-se o tempo todo que nosso objetivo não é acertar o que irá acontecer, mas imaginar possibilidades de futuro que nos ajudem a fazer apostas. Apostas essas com foco no futuro que nos ajudem a resolver ou eliminar problemas existentes hoje. 

Checar se a imagem a respeito do futuro é passível de ocorrência. Mesmo sendo um processo criativo, onde a imaginação deve fluir e possibilitar vislumbrar rupturas, essas rupturas devem ser passiveis de ocorrência no horizonte temporal. Apesar da grande expansão das TIC e da banda larga, será possível afirmar que toda a população mundial terá acesso à internet em 83 anos. Estudos estimam que provavelmente até 2050 toda população residente na área agrícola dos países desenvolvidos terá acesso a internet. Hoje eles não têm. Estimam também que, provavelmente metade da população mundial também terá acesso a internet até 2050. Segundo estudos, a falta de acesso à energia elétrica, a computadores ou smartfone e o analfabetismo, inclusive digital, são fatores que impedem tal avanço. Logo, para que toda a população mundial tenha acesso as TICs, teremos que resolver esses outros problemas também. Há tempo e recursos suficientes para tal? Lembrem-se, as histórias devem ser consistentes e coerentes, caso contrário perdem credibilidade e não vão auxiliar no processo decisório e, principalmente de investimento. T

Ter bom senso. Não podemos esquecer do bom senso. Lembrem-se que a tecnologia pode avançar, mas mudanças no comportamento humano são questões mais difíceis e muitas vezes levam tempo para que a mudança ocorra. Por exemplo: será que em 83 anos ou mesmo em 100 anos o crime irá desaparecer? A corrupção não mais existiria? 

Mostrar a evolução dos acontecimentos. Mesmo sendo algo que não existe hoje, é importante descrever como se passou da situação atual para a futura. Há necessidade de mostrarmos que isso é possível, mesmo que para isso tenhamos que desenvolver novo conhecimento. Os filmes de ficção científica fazem isso muito bem. 

Tomar cuidado com as tecnologias existentes hoje que têm grande força e amplitude de uso, principalmente as que apresentam sinais de substituição. Por exemplo, as tecnologias que suportam as telecomunicações estão migrando para as das redes de comunicação, sendo assim, em 83 anos ainda teremos sistemas de telecomunicação como conhecemos hoje funcionando? O uso do petróleo como combustível está sendo questionado e em vários países sofrendo processo de substituição. Será que em 2100 ele continuará como principal combustível a ser utilizado pelos meios de transportes? 

Estar atento quanto aos atores. Tomem muito cuidado com os atores, suas responsabilidades ou “dever ser”, pois podem se alterar em horizontes distantes e suas funções podem, inclusive, desaparecer, o que acarretaria a inexistência desse ator no futuro. Entretanto, outros que não existem hoje em dia ou possuem pouco poder de atuação poderão se tornar protagonistas no futuro. Lembrem-se que muitas profissões existentes hoje deixarão de existir e outras que nem imaginamos estarão em ampla expansão. Por exemplo, em 1924 ninguém saberia dizer o que seria ou o que faria um operador de telemarketing e no futuro, provavelmente, esse profissional não mais existirá e ninguém conseguira descrever suas atividades. Ou mesmo questionar: tinha gente que exercia essas funções? 

Não fazer uso de observações vagas. Vocês estão contando uma estória, logo o leitor deve ser capaz de imaginar o futuro e de criar essa imagem. Se a redação for vaga não será possível imaginar. 

Utilizar os verbos nos tempos verbais do passado e do presente. Tomem cuidado com o uso dos verbos, vocês já estão no futuro, logo os verbos devem ser escritos no passado e no presente. Nunca no futuro ou no condicional. Evitem também o uso de expressões como: provavelmente, há chances etc. Lembrem-se que como as histórias a respeito do futuro são contatadas a partir do futuro, os eventos já ocorreram, logo não há dúvidas quanto sua ocorrência. São histórias e não previsões o que estamos redigindo. 

Descrever relações de causa e efeito que façam sentido e checar essas possibilidades. Tomem cuidado com as relações de causa e consequência. Lembrem-se que o ambiente é complexo e quanto mais avançamos, mais complexo ele se torna, pois temos mais conhecimento sobre ele. Ao alterarmos o curso dos acontecimentos, teremos que analisar os impactos nas demais variáveis visto que o mundo, ou qualquer tema que formos criar imagens a respeito do futuro se comporta como um sistema complexo.

Espero que essas dicas sejam úteis.

Elaine C. Marcial

domingo, 19 de novembro de 2017

A palavra de ordem é Disrupção. Sua organização está preparada?

Big data, CLOUD computer, internet das coisas, inteligência artificial, inteligência ampliada, realidade ampliada, robótica, bitcoin e blockchain, carros autônomos, novos materiais advindos da nano e da biotecnologia, impressão 3D, em um contexto de mudanças demográficas, empoderamento dos indivíduos, novas relações de trabalho, mudanças climáticas, ampliação dos fluxos migratórios, escassez de água, terrorismo e ataques cibernéticos.
Esses exemplos, de como a vida no futuro poderá ser diferente da de hoje, exigirão das organizações públicas adaptação rápida para que possam cumprir seus propósitos, mantendo-se vivas e preservando seus espaços perante seus clientes e a sociedade. Quem não romper com o passado não terá espaço no futuro.
É importante que se compreenda as possibilidades de futuro que ora se apresentam para que se possa pensar em inovações disruptivas e fazer as melhoras escolhas. Para tanto, é preciso ter coragem em admitir que muito do que se faz hoje não terá serventia alguma no futuro. E que grande parte das necessidades do amanhã sequer foram imaginadas.
Partindo-se do princípio de que o futuro é múltiplo e incerto e muda a todo o instante, é necessário que, além de realizar o monitoramento constante do ambiente, evitando surpresas e o desenvolvimento de pontos cegos, é preciso desenvolver uma estratégia revolucionário e disruptiva, que promova o rompimento com os paradigmas do passado.

Você está preparado? E a sua organização? Que competências serão necessárias? 
É premente buscar essas respostas e mais do que se preparar para o futuro, se posicionar como construtor do futuro.
Elaine C. Marcial