Ontem, assistindo a palestra do professor Luc Quoniam, saí de lá com algumas questões: Haveria com se antecipar aos resultados da serendipidade? Se não, como estar preparado para as mudanças? Posso usar a serendipidade no processo de produção de informação estratégica?
Durante sua palestra, o professor Luc afirmou que não há como prever as descobertas e inovações fruto da serendipidade, pois são movimentos evolutivos fruto do acaso. Ao falar isso, me fez lembrar do livro “A lógica do cisne preto”, de Nassim Taleb. Este probabilista afirma que “só é possível prever o ordinário, mas não o inusitado”, entretanto, é justamente o inusitado que faz a diferença. As descobertas, fruto da serendipidade, representam o inusitado.
O professor Luc trouxe diversos exemplos de descobertas e inovações fruto do inusitado, como a descoberta da lei da gravidade, o post-it, o teflon, o aspartame, o velcro, o viagra, a impressora jato de tinta e a pinicilina. Na realidade, são muitas as descobertas fruto da serendipidade que modificam a nossa forma de entender e interagir com o ambiente, como também de enriquecer pessoas e empresas.
Mas qual a importância da serendipidade na produção de informação estratégica, seja para a Inteligência ou para a construção de cenários? Durante a palestra o professor Luc também mostrou que todas essas descobertas somente aconteceram, pois quem as realizou estava preparado, e citou a famosa frase de Luis Paster: “A sorte favorece a mente preparada”. O professor apresentou levantamento do acervo de diversas pessoas e organizações que geram descobertas e inovações que mudaram o mundo, fruto da serendipidade, mostrando com esses dados que, de fato, Paster tinha razão. Sem uma mente preparada para enxergar a oportunidade ela passa sem deixar vestígio, basta lembrar que foi Newton que descobriu a lei da gravidade. Quantas maçãs já haviam caído na cabeça das pessoas e nenhuma delas havia descoberto nenhuma lei física?
Não é a toa que diversos autores da área de Inteligência citam essa famosa frase de Paster, e que muitos da área de Inteligência Competitiva afirmam que a serendipidade é uma qualidade do bom profissional de Inteligência.
Quanto mais conhecimento você adquirir, mais preparado você estará para perceber mudanças e movimentos sutis, identificar sinais fracos e grandes oportunidade. Para a atividade de Inteligência o “ser serendipide” é crucial. Segundo o professor Luc para o exercício da serendipidade a pessoa deve ser observadora, curiosa, intuitiva e estar preparada para administrar as frustrações. Isso por que a serendipidade é o ato de aproveitar as ocorrências inesperadas, e muitas delas são fruto de algo que deu errado. Lembramos que essas também são características de um bom cenarista.
O professor alerta que a burocracia é o oposto da serendipidade e, para exemplificar, mostra uma lista de grandes empresas que possuem dois grandes nomes na liderança, um voltado para a administração (burocrática) e outro para a inovação (não burocrática). “Você tem que sair do quadro para enxergar o novo”, afirma o professor, e a burocracia não permite isso. Cita como exemplo um órgão criado na Comunidade Européia chamado OLAF - European Anti-Fraud Office, que tem como principal missão tentar imaginar movimentos criminoso futuros “fora da caixa”.
Quanto às perguntas que fiz inicialmente ainda estou pensando nas respostas. Mas, certamente, se deixarmos para traz a idéia de tentarmos prever o futuro e partirmos para a produção de informação que nos ajude a construir o futuro, está certamente será uma estratégia vencedora, e a serendipidade certamente nos ajudará produzir cada vez mais e melhor informação estratégica focada na construção do futuro. Se você tem as respostas ou alguma idéia que possa contribuir para responder essas questões, contribua com essa discussão!