A compreensão de
uma metodologia de construção de cenários passa pelo entendimento das seguintes
questões: o que é essa metodologia, por que ela existe, para que ela serve e
como ela funciona e é aplicada.
Quanto a esse
objeto, há diversas definições. Mas para sua melhor compreensão é necessário conhecer
primeiro a definição de alguns termos ligados a metodologia de construção de
cenários que, muitas vezes, são utilizados de forma indiscriminada na literatura,
seja ela científica ou não. Sendo assim, O que é um cenário? É uma história
contada a respeito do futuro. Nunca descreve a realidade atual nem futura,
sempre representa visões fictícias a respeito do futuro, que por definição, é
sempre múltiplo e incerto. É por isso que são sempre construídos múltiplos
cenários e não apenas um (Chermark; Lynham, 2002).
Já o planejamento
por cenário, refere-se ao método de formulação de estratégia por meio da
utilização da construção e análise de cenários (Chermark; Lynham, 2002).
Existem diversos métodos que são utilizados atualmente. Sua taxonomia pode
oscilar entre métodos baseados na criatividade, ou em evidências que se apoiam
em documentos e análise, ou na experiência (habilidade e conhecimento de
indivíduos) ou na interação entre especialistas e atores (Popper, 2008).
Essa metodologia
surge em um ambiente turbulento em que os modelos de previsão não atendem mais
as necessidades dos formuladores de estratégias. Tais metodologias passam a
aceitar a incerteza atrelada ao futuro e a necessidade de gerenciamento do
risco. Tanto a visão prospectiva quanto a do foresight – duas grandes escolas no campo dos estudos de futuro – se
estabelecem nesse contexto e possuem como objetivo desenvolver melhores estratégias
e planos, bem como reduzir as surpresas em ambiente de grande incerteza.
Auxilia a desenvolver melhores políticas e serviços públicos, bem como formular
estratégicas focadas nas demandas futuras. Seu principal foco é iluminar o
processo decisório de forma a conduzir os estrategistas a construírem o futuro.
No Brasil, os
métodos de planejamento por cenários mais utilizados são o da Shell, descrito
por Peter Schwartz (1996); do Professor Godet (1993); e o de Grumbach (2008), baseado
na consulta Delphi e impactos cruzados. Modelo síntese foi desenvolvido
(Marcial, 2011), fruto da análise comparativa entre esses três métodos que tem
mostrado resultados positivos em construção de cenários recentes (Cenários para
a segurança pública no Brasil em 2023 (Ferreira; Marcial, 2015) e Brasil 2035
(no prelo – detalhes em ). Baseia-se no
princípio de que há um fio condutor entre esses diversos métodos e que cada
estudo exige ferramentas diferentes da prospectiva. Tem também crescido o uso
do método de construção de minicenários (Marcial, 2011) principalmente pelas
unidades de Inteligência tanto no âmbito do Estado quanto por empresas
privadas, para responder a questões estratégicas de grande incerteza.
A metodologia de
planejamento por cenários tem apresentado uso crescente em todo o mundo, tanto
pelas empresas quanto por governos e instituições públicas pelo fato de
facilitar a formulação de estratégias em ambiente de grande incerteza (Santos,
2011).
REFERENCIAS
CHERMACK, T. J.; LYNHAM, S. A. (2002) Definitions and outcome variables
of scenario planning. Human Resource
Development Review, v. 1, n. 3, pp. 366-383.
FERREIRA, Helder
Sant’Ana; Marcial, Elaine C. (2015) Violência
e Segurança Pública em 2023: cenários exploratórios e planejamento prospectivo. Brasília: Ipea.
GODET, Michel.
(1993) Manual de prospectiva estratégica:
da antecipação a acção. Lisboa:
Publicações Dom Quichiote.
MARCIAL, Elaine C.
(2011). Análise estratégica: estudos de
futuro no contexto da Inteligência Competitiva. Brasília: Thesaurus.
MARCIAL, Elaine
C.; Grumbach, Raul. (2008) Cenários
Prospectivos. Como construir um futuro melhor. 5.ed. Rio de Janeiro:
Editora da Fundação Getúlio Vargas.
POPPER, R. (2008) Foresight Methodology,
in Georghiou, L., Cassingena, J., Keenan, M., Miles, I. and Popper, R. (eds.),
The Handbook of Technology
Foresight, Edward Elgar, Cheltenham,
pp. 44-88. <https://rafaelpopper.wordpress.com/foresight-diamond/>.
SANTOS, A. (2011) Um modelo integrador para formulação de
estratégias múltiplas: contribuição da análise prospectiva. Tese de
Doutorado, PUC Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ.
SCHWARTZ, Peter. (1996) The Art of long view. Planning for the future in an uncertain
world. New York: Doubleday.