A maior parte das organizações
desenvolvem seus processos de formulação de estratégia sem se preocupar com o
futuro. Algumas até se preocupam com futuro, levantam tendências e previsões,
mas não se dão conta das características do futuro e formulam estratégias
equivocada e tomam decisões erronias.
Mas quais são as
características do futuro com as quais as organizações devem se preocupar?
Destacamos seis que interferem no processo de construção de informação a
respeito dele.
O futuro ser múltiplo e
incerto, como argumentado por Michel Godet, é a primeira delas. Isso significa
que a partir do hoje ele se abre em múltiplas possibilidades e que nenhuma
delas está determinada, irá depender das decisões e ações de atores diversos. Como
não conseguimos saber, de antemão, o que irá acontecer, a incerteza está
presente. Ela faz parte do futuro e ainda é maior em ambientes turbulentos e
disruptivos como os de hoje.
O futuro sempre nos surpreende
com eventos inusitados. Eventos esses difíceis de serem antecipados e que surpreendem
a todos, a exemplo dos cisnes negros definidos por Nassim Taleb. Essa
segunda característica do futuro de ser inusitado o torna ainda mais incerto.
Logo as organizações devem possuir sistemas de monitoramento permanentes para
conseguir captar os sinais de possíveis mudanças.
Como o futuro não existe, está
ainda por ocorrer, toda e qualquer visão construída a respeito dele é um
constructo da nossa imaginação – terceira característica do futuro. O máximo
que conseguimos é imaginar as diversas possibilidades de futuro. Isso não
significa que as organizações não devam estudar e produzir informações sobre o
futuro, mas devem ter consciência de que são apenas possibilidade frutos de
visões informadas construídas.
Apesar de inusitado e incerto,
o futuro é sempre influenciado por grandes forças que estão em operação no
ambiente e que contribuem com sua construção – quarta característica do futuro.
Referem-se, em geral, à megatendências como o envelhecimento da população ou a
avanço das tecnologias da informação e comunicação modificando o ambiente de
trabalho e de produção, bem como as relações sociais.
Entretanto, a atuação de
atores pode gerar eventos inusitados que causem rompimento dessas grandes forças
em operação no ambiente. Ou seja, o futuro também tem seu curso alterado pelas
decisões tomadas pelos atores, que molda o futuro ao buscarem implementar suas
estratégias e desejos – quinta característica do futuro. Um ator modifica o
ambiente ao realizar investimentos e ações para atingimento de seus objetivos
estratégicos ou para evitar a ocorrência de algum evento inoportuno. Por sua
vez, os demais atores existentes no ambiente reagem a esse movimento, ou no
sentido de amplificá-lo ou para impedir sua ocorrência. O futuro se constrói por
meio do resultado desse confronto de estratégias dos diversos atores e, assim,
vão moldado o curso dos acontecimentos, mudando o por vir a todo momento.
Por fim, a sexta e última
característica do futuro representa a impossibilidade de ser previsto. Essa
característica é o resultado de todas as outras. Sendo o futuro é múltiplo e
incerto a previsão não faz sentido, visto que representa uma visão única de
futuro. Para Taleb o inusitado sempre surpreende a todos e é impossível de ser
previsto. Sendo um constructo da nossa imaginação e cada ator pode construir o
seu, não existe um único futuro a ser previsto, há futuros distintos
construídos por cada ator. Por fim, apesar da existência de forças ambientais,
elas podem ser rompidas ou por eventos inusitados ou pelo confronto da
estratégia dos atores, cujo resultado, em sua maioria, é impossível de ser
previsto.
Todas essas características do
futuro, sintetizadas na Figura 1, devem ser observadas quando se produz
informação sobre ele para subsidiar os processos decisório e de planejamento
estratégico. Até porque planejar é realizar apostas nesse futuro incerto. É
nesse contexto que a construção de cenários ganha espaço, por ser a metodologia
que consegue capturar todas as características do futuro.
Figura 1 – Característica do
futuro
Então, sua organização realiza
a formulação de estratégia com base em cenários? Ela está preparada para esse
futuro cada vez mais incerto e disruptivo?
Elaine C. Marcial
Doutora em Ciência da
Informação e coordenadora do Grupo de pesquisa em estudos de futuro da
Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília – NEP-Mackenzie.