
Embora pareça óbvio, as
informações sobre o futuro possuem características diferentes daquelas
relacionados ao presente, isto porque o futuro possui características
próprias: ele é múltiplo e incerto, é
inusitado, impossível de ser previsto, é um constructo da nossa imaginação, os
atores podem mudar o seu curso a todo instante e tem seu curso influenciado por
forças ambientais*.
Nesse contexto, a
construção de cenários prospectivos caracteriza-se como a melhor metodologia
para produzir esse tipo de informação, já que essa metodologia consegue lidar
com as características do futuro, levando em consideração as decisões e ações
dos atores, capturando as possíveis quebras de tendências e possíveis
disrupturas. Ao construir várias histórias a respeito do futuro, é assumido que
ele é múltiplo e incerto e necessita ser construído.

Essa questão não é a
única que justifica a utilização de cenários, porque a transição não é somente
energética, visto que o mundo está em transição e, com efeito, diversas
tecnologias disruptivas podem aflorar e impactar a área de energia. Inteligência
artificial, novos materiais advindos da nano e biotecnologia, a impressora 3D,
o blockchain, o big data, a inteligência artificial e a inteligência aumentada são
alguns exemplos.
Importa destacar que essas
mudanças não ocorrem somente no campo tecnológico, mas também nos campos social,
demográfico e ambiental. Todas elas, de forma sistêmica, irão impactar a
transição energética e a utilização de cenários se apresenta como uma das
melhores metodologias existentes para produzir informação sobre esse futuro tão
incerto e que se apresenta com múltiplas possibilidades. São os cenários que produzem
as melhores informações para subsidiar o processo de tomada de decisão dos estrategistas
e formuladores de políticas públicas.
Cabe lembrar que os
cenários lidam com variáveis qualitativas, construindo histórias a respeito do
futuro que irão iluminar o processo de tomada de decisão. Estuda-se o futuro
não para se saber o que vai acontecer, mas para melhorar o processo decisório
hoje, decidindo-se qual o melhor caminho a ser seguido e que apostas devem ser
feitas.
Entretanto, caso sejam
utilizados de forma inapropriada, os cenários guardam em si um risco
estratégico. Além disso, muitos planejadores e formadores de políticas públicas
não atribuem o devido valor a esse instrumento de planejamento. A falta de
projeção numérica retira esses executivos da zona de conforto e gera, muitas
vezes, descrença no método e em seus resultados. Esquecem que o futuro é um
constructo da nossa imaginação e não algo que possa ser previsto.

Para reduzir o risco
estratégico de decisões e da construção de uma estratégia inadequada, é
importante que:
- Sejam desenvolvidas capacidades para a construção e uso de cenários.
- Os planejadores e formuladores de políticas públicas sejam capacitados.
- A aplicação da metodologia seja adequada e de forma participativa.
- O ambiente seja permanente e sistematicamente monitorado.
- Se busque a interação entre os cenários que trabalham com variáveis qualitativas e com as metodologias quantitativas, dando assim, mais segurança ao processo decisório.
Palestra ministrada por Elaine C. Marcial no Workshop: Long-term Scenarios for the Clean Energy Transition in Latin America, que ocorreu nos dias 25 e 26 de fevereiro de 2019, no auditório do Ministério das Minas e Energia, em Brasília.
* Ver publicação: A palavra de ordem é Disrupção. Sua organização está preparada?