terça-feira, 26 de novembro de 2019

Paixão nacional dando um show de estratégia


Não é a primeira vez que o futebol nos dá exemplo da importância da informação estratégica, também conhecida com inteligência competitiva, e do seu uso na formulação de uma estratégia sólida para o atingimento do sucesso. Para ganhar é preciso dedicação, capacitação, informação e estratégia, em geral de longo prazo. Vimos o show apresentado pela seleção alemã, ao ganhar a Copa do Mundo em 2014, como um exemplo que integra informação e estratégia, em especial uma estratégia de longo prazo.

Nesse contexto, destaco o jogo realizado no dia 13 de novembro, no Rio de Janeiro, entre Vasco e Flamengo que surpreendeu a todos. Uma estratégia inovadora, baseada em informação levou um time, considerado fraco, chegar ao um empate com o time favorito do campeonato brasileiro. O treinador do Vasco juntou conhecimento e informação com uma das grandes capacidades que o brasileiro tem de criar e de se adaptar, o que levou ao resultado que deixou ambas as torcidas perplexas e os apaixonados por futebol também. Informação + estratégia + inovação + adaptação é fórmula de sucesso.

Criatividade e adaptação são caracterizas essenciais para a sobrevivência e conquista de novos mercados nos dias de hoje altamente disruptivos. Mas isso não basta, há necessidade de muito conhecimento, informação e inovação permanente, inclusive inovação disruptiva, para ganhar mercado e ocupar posição de destaque no mundo dos negócios. Há também a necessidade de se formular estratégias, em sua maioria de longo prazo.

Vimos a Coreia sair de um país que vendia produtos de baixa qualidade na década de 1980 e a China na década de 1990, se tornarem grandes exportadoras de produtos com alto valor agregado. Entretanto, isso não ocorreu da noite para o dia, representou uma estratégia de mais de duas décadas.

Por outro lado, o Brasil, que já era na década de 1970, o país que ia para frente, se manteve basicamente como exportador de commodities. Sem uma estratégia de longo prazo clara, formulada com base na produção de informação estratégica, não sairá dessa condição.

Há a necessidade de escolhermos quais serão nossas opções estratégicas e a formulação de uma estratégia de longo prazo que auxilie a pavimentar esse caminho. Temos tanto que investir em inovação tecnológica quanto na formação de mão de obra qualificada para atuar nessas áreas priorizadas. É preciso também construir um ambiente propício para que a inovação ocorra e o mercado se desenvolva.

A China percebeu isso e mandou chineses para as melhores universidade do mundo realizarem pesquisa aplicada nas áreas considerada prioritárias. Nós fizemos isso na década de 1970 e início dos anos 1980. Por exemplo, a Embrapa fez grandes investimentos mandando seus pesquisadores estudarem nas melhores universidades do mundo, o que resultou na transformação do Brasil em “celeiro do mundo” e o cerrado em um dos maiores centros produtores de grãos do mundo, quando se acreditava que se tratar de áreas de baixa produtividade agrícola.

A falta de estratégia levou o Estado brasileiro a investir, no passado recente, em graduandos estudando no exterior, sem um direcionamento claro, e por conseguinte sem um retorno específico para o País como o verificado na China. Sem objetivos estratégicos claros e metas bem definidas a serem atingidas não se chega a lugar nenhum. Não se investe por que é bom, investe-se buscando retornos futuros claros e mensuráveis.

Como os recursos são escasso, temos que priorizar. Lembro que priorizar é escolher poucas áreas, de preferência que caibam na palma da mão, para as quais vamos fazer nossas apostas estratégicas, formular uma estratégia de longo prazo e investir em capacitação, ciência, tecnologia e inovação que coloquem nosso país em um novo patamar. 

Essa escolha deve ser pautada, na minha opinião, juntando dois tipos de informação: (1) a sobre o futuro, quais serão as demandas futuras, e (2) a lista de nossas competências essenciais. As apostas estratégicas devem ser o resultado da análise desses dois tipos de informações estratégicas, para que possamos, rapidamente, produzir retorno ao País. Vejam que a China fez isso no campo da produção de painéis solares: aproveitou o fato de dispor de terras raras em abundância e desenvolveu as competências necessárias para a transformação dessa matéria prima em produto com alto valor agregado. 

Juntar as duas na formulação da estratégia é chave, pois não adianta nada investirmos em uma competência que não será importante no futuro. Alem disso, sem uma estratégia de longo prazo não sairemos do voo de galinha e dos planos econômicos que não nos levarão ao desenvolvimento. Então eu pergunto: Quais são nossas competências essenciais que serão importantes no futuro? No que devemos investir? Colocar nossas fichas?

Seja um apaixonado por foresight e construa um futuro melhor!

Participe do II Encontro do Nep-Mackenzie que ocorrerá no dia 29 de novembro, a partir das 14:30 a Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília (ver detalhes em: <http://elaine-marcial.blogspot.com/2019/11/ii-encontro-do-nep-mackenzie.html>).

Elaine Marcial é Doutora em Ciência da informação e coordenadora do NEP-Mackenzie – Núcleo de Estudos Prospectivos da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília.

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