domingo, 1 de setembro de 2019

Planejar é preciso!


Há décadas que o Brasil carece de uma estratégia de longo prazo, mas nessa última sexta-feira (30 de agosto de 2019), uma luz no fim do túnel surgiu. A Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR) lançou o Sistema de Planejamento Estratégico Brasileiro (SIPEB), no auditório do Anexo I da Presidência da República.


O evento adotou como lema: Planejar é preciso! Além de necessário, sem planejamento, em especial de longo prazo, o país fica à deriva, sofrendo diversas soluções de continuidade e apresentando crescimento caracterizado como “voo de galinha”.

No mundo disruptivo que vivemos, ter uma estratégica é fundamental. Quais serão nossas apostas estratégicas? Em quais conhecimentos e tecnologias devemos priorizar nossos investimentos? Focadas para que setor prioritário da economia? Quais as nossas prioridades estratégicas? Quais os nossos desafios? Que fatores críticos de sucesso devem ser tratados para que obtenhamos sucesso em nossos investimentos? Quem são os atores-chave e que parcerias estratégicas deverão ser firmadas para a construção do futuro desejado?

O projeto apresentado, baseado na criação de um Centro de Governo responsável por formular a Estratégica, coordenar o processo, monitorá-la e avaliar as políticas públicas, bem como realizar a articulação política, a comunicação e o accountability necessários, certamente não será trabalho de um único órgão. Será necessário a articulação de ação conjunta para que realmente o nosso país tenha uma estratégia de longo prazo, uma das funções primordiais da Presidência da República.

A comunicação, destacada como uma das ações estratégicas desse sistema, é essencial visto que toda a sociedade, em especial os agentes econômicos, devem conhecer a estratégia Nacional para que possam ajustar seus investimentos e assim contribuir para a sua consecução. Para tanto, será também necessário a construção e internalização de um pensamento estratégico Nacional compartilhado por toda a sociedade brasileira com temos hoje em dia: “Brasil celeiro do mundo”. A força de um pensamento estratégico Nacional é enorme, ele age de forma subliminar influenciando até mesmo nossas decisões pessoais de compra. Não é por acaso que somos os líderes em vendas de caminhonetes. Ter uma caminhonete estacionada dentro de um shopping é sinônimo de status. Também explica o sucesso da música sertaneja em todo o nosso país. Este é o verdadeiro pensamento estratégico, pois move uma sociedade e a economia de um país.

Outros pontos importantes desse sistema referem-se à integração das políticas públicas e planos estratégicos, buscando-se uma atuação proativa e prospectiva. Essa criação de sinergia entre as políticas públicas nos trará agilidade e redução dos custos de implantação e do tempo de obtermos os resultados. A atuação proativa, por meio da antecipação de eventos futuros, será conduzida por uma sala de situação chamada Sala Brasil. A atuação da Sala Brasil evitará crises, desgastes políticos com questões muitas vezes de cunho tático ou mesmo operacional, além de perda de tempo e de recursos desnecessários. Já a visão prospectiva nos ajudará a construir o país dos sonhos, bem como a solucionar problemas que carregamos há décadas. Essa visão será apoiada um Observatório.

A Sala Brasil contará com monitoramento diário das principais questões estratégicas prioritárias, terá espaço para as reuniões do Centro de Governo e do Conselho de Governo, ambos responsáveis pelas decisões estratégicas. Disponibilizará salas temáticas e de trabalho para debates e construção de soluções, tudo isso sustentado pelo centro de monitoramento, apoiado por videowall. Já o Observatório fornecerá as informações mais focadas à produção prospectiva.

O SIPEB será responsável por coordenar a formulação da Estratégia de longo prazo que se desdobrará nos planos táticos (médio prazo), operacionais (curto prazo) e nos projetos, iniciativas e processos prioritários, integrando todas essas atividades ao orçamento para que haja a alocação adequada de recurso.

Finalmente, parece que o nosso país acordou para a importância de formularmos uma estratégia de longo prazo e está investindo no que, acredito, ser o primeiro passo para nos transformar em uma nação desenvolvida, conforme resultado apresentado no livro Brasil 2030: cenários para o desenvolvimento (disponível para download no portal do Ipea).

Mas esse, sem sombra de dúvidas, não é um trabalho a ser executado somente pela SAE/PR. Haverá a necessidade do envolvimento de todos os órgãos de Estado, no nível federal, estadual e municipal, principalmente pelo fato de que as políticas públicas acontecem no território e não em Brasília. Entretanto, é também necessário que toda a sociedade brasileira se envolva nesse projeto, visto que sem um pensamento estratégico Nacional esse esforço será em vão.

O Núcleo de Estudos Prospectivos da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília (NEP-Mackenzie) esteve presente no evento, representado pelos pesquisadores Dra. Elaine Marcial, Dr. Thomas Fronzaglia; Ms. Marcos Pena e Ms. Marcos Françozo. O NEP-Mackenzie já elabora proposta de pesquisa que irá contribuir com esse projeto. Então eu pergunto: que país desejamos deixar para os nossos filhos e netos? E o que devemos fazer como sociedade para construir com a construção desse país tão sonhado? Qual a nossa contribuição?

Dra. Elaine Coutinho Marcial é coordenadora do NEP-Mackenzie – Núcleo de Estudos Prospectivos da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília.

Obs.: Foto Dra. Elaine Marcial entregando o Certificado de Participação ao General Lauro Luís Pires da Silva, Secretário Especial Adjunto da SAE/PR.


terça-feira, 20 de agosto de 2019

Grupo de pesquisa trabalha Estudos do Futuro como ferramenta para criação de políticas públicas


Pesquisadores do Mackenzie
em Brasília querem fortalecer a utilização desta área como metodologia de formulação de políticas governamentais
Por Elaine Marcial

Estamos coordenando um grupo de pesquisa em Estudos de Futuro, o NEP-Mackenzie, que está funcionando, desde o ano passado, na Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília. Esse grupo possui três linhas de pesquisa.

Na linha pesquisa voltada para os campos epistemológico e científico, coordenamos o projeto Define, que busca uma definição unificadora para a matéria. A outra linha de pesquisa é no campo aplicado, na qual o projeto em condução é o de Megatendências Mundiais 2040. A terceira linha de pesquisa foca no desenvolvimento de ferramentas tecnológicas para apoio aos estudos de futuro. O primeiro trabalho a ser desenvolvido nesse campo é por meio da participação em um projeto financiado pela FAP-DF e liderado pela Universidade Católica de Brasília: o projeto Ideação.

Nossa missão é: Contribuir com o desenvolvimento científico e tecnológico no campo dos estudos de futuro em apoio à formulação de estratégias e políticas públicas. E nossa visão de futuro é: Ser referência no Brasil e na América Latina em pesquisa na área dos estudos de futuro para a formulação de estratégia e política pública.

Reportagem que apresenta mais detalhes sobre o grupo de pesquisa pode ser encontrada na página da Faculdade Presbiteriana Mackenzei Brasília:


domingo, 10 de março de 2019

Planejamento energético de longo prazo: cenários para apoiar a formulação de políticas públicas no campo da transição energética


Quando o tema é planejamento energético, o longo prazo sempre estará presente e para a formulação de um bom planejamento, a informação se torna imprescindível. Entretanto, não é qualquer informação que deve ser utilizada nesse processo, mas aquela que diz respeito ao futuro.
Embora pareça óbvio, as informações sobre o futuro possuem características diferentes daquelas relacionados ao presente, isto porque o futuro possui características próprias:  ele é múltiplo e incerto, é inusitado, impossível de ser previsto, é um constructo da nossa imaginação, os atores podem mudar o seu curso a todo instante e tem seu curso influenciado por forças ambientais*.
Nesse contexto, a construção de cenários prospectivos caracteriza-se como a melhor metodologia para produzir esse tipo de informação, já que essa metodologia consegue lidar com as características do futuro, levando em consideração as decisões e ações dos atores, capturando as possíveis quebras de tendências e possíveis disrupturas. Ao construir várias histórias a respeito do futuro, é assumido que ele é múltiplo e incerto e necessita ser construído.
Focando no tema da transição para energia limpa, a utilização da construção e uso de cenários prospectivos torna-se bastante adequada, isso porque todo processo de transição pressupõe a inexistência de um paradigma consolidado, ou seja, ele está por emergir. Em outras palavras, a tecnologia predominante ainda não se estabeleceu, está em desenvolvimento ou a ser descoberta. Na realidade, várias tecnologias concorrem entre si para ocupar tal espaço. E o inusitado pode emergir a qualquer momento. É sempre bom lembrar que, no longo prazo, tudo pode mudar.
Essa questão não é a única que justifica a utilização de cenários, porque a transição não é somente energética, visto que o mundo está em transição e, com efeito, diversas tecnologias disruptivas podem aflorar e impactar a área de energia. Inteligência artificial, novos materiais advindos da nano e biotecnologia, a impressora 3D, o blockchain, o big data, a inteligência artificial e a inteligência aumentada são alguns exemplos.
Importa destacar que essas mudanças não ocorrem somente no campo tecnológico, mas também nos campos social, demográfico e ambiental. Todas elas, de forma sistêmica, irão impactar a transição energética e a utilização de cenários se apresenta como uma das melhores metodologias existentes para produzir informação sobre esse futuro tão incerto e que se apresenta com múltiplas possibilidades. São os cenários que produzem as melhores informações para subsidiar o processo de tomada de decisão dos estrategistas e formuladores de políticas públicas.
Cabe lembrar que os cenários lidam com variáveis qualitativas, construindo histórias a respeito do futuro que irão iluminar o processo de tomada de decisão. Estuda-se o futuro não para se saber o que vai acontecer, mas para melhorar o processo decisório hoje, decidindo-se qual o melhor caminho a ser seguido e que apostas devem ser feitas.
Entretanto, caso sejam utilizados de forma inapropriada, os cenários guardam em si um risco estratégico. Além disso, muitos planejadores e formadores de políticas públicas não atribuem o devido valor a esse instrumento de planejamento. A falta de projeção numérica retira esses executivos da zona de conforto e gera, muitas vezes, descrença no método e em seus resultados. Esquecem que o futuro é um constructo da nossa imaginação e não algo que possa ser previsto.
Sem a absorção adequada da metodologia e de seus resultados, nem os planos nem as visões de futuro já sedimentadas são alterados e o futuro não é construído levando, assim, ao aumento do risco estratégico em relação à tomada de decisão.
Para reduzir o risco estratégico de decisões e da construção de uma estratégia inadequada, é importante que:
  • Sejam desenvolvidas capacidades para a construção e uso de cenários.
  • Os planejadores e formuladores de políticas públicas sejam capacitados.
  • A aplicação da metodologia seja adequada e de forma participativa.
  • O ambiente seja permanente e sistematicamente monitorado.
  • Se busque a interação entre os cenários que trabalham com variáveis qualitativas e com as metodologias quantitativas, dando assim, mais segurança ao processo decisório.

Palestra ministrada por Elaine C. Marcial no Workshop: Long-term Scenarios for the Clean Energy Transition in Latin America, que ocorreu nos dias 25 e 26 de fevereiro de 2019, no auditório do Ministério das Minas e Energia, em Brasília.

* Ver publicação: A palavra de ordem é Disrupção. Sua organização está preparada?





segunda-feira, 19 de novembro de 2018

IV Encontro da Rede Brasileira de Prospectiva


CONVITE


Participe do IV Encontro de Planejamento Estratégico e Prospectiva que ocorrerá nos dias 4 e 5 de dezembro de 2018, na Faculdade Presbiteriana Mackezie Brasília, e conheça as principais tendências e rupturas para as próximas décadas.
As inscrições são gratuitas, mas as vagas limitadas. Não perca a oportunidade de participar do maior evento brasileiro na área dos estudos de futuro. Inscrições abertas em:


O Encontro é uma organização do Núcleo de Estudos Prospectivos da Faculdade Presbiteriana Mackenzie, da Rede Brasileira de Prospectiva, da Associação de Servidores de Planejamento e Orçamento (Assecor) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Síntese do evento
Dias 4 e 5 de dezembro de 2018
Local: O evento será realizado em Brasília, nas instalações da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília – SGAS 906, conjunto A Bloco 1 – Brasília, DF – 70390-060.
Comitê organizador: Assecor, NEP-Mackenzie, RBP e Ipea

Esse IV Encontro reunirá cenaristas, profissionais das áreas de planejamento de instituições públicas e privadas, formuladores de políticas públicas, gestores, executivos e profissionais das áreas de inteligência e gestão de risco que necessitam dos estudos de futuro para realização de suas atribuições.
O Encontro é organizado pela Rede Brasileira de Prospectiva em parceria com o Núcleo de Estudos de Futuro da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília (NEP-Mackenzie), com a Associação dos Analistas de Planejamento e Orçamento (Assecor) e com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) – instituições que formam o Comitê Gestor. Também conta com a parceria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Agência Brasileira de Telecomunicações (Anatel), Agência Espacial Brasileira (AEB), Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Ministério das Cidades, Ministério do Planejamento, Ministério das Relações Exteriores, Escola Superior de Guerra (ESG), Escola de Guerra Naval (EGN), Universidade Estadual Paulista (UNESP) e o Projeto i2030 (instituições que formam o Comitê Consultivo).
O Encontro da RBP tem como principal objetivo compartilhar boas práticas de estudos de futuro e planejamento estratégico e objetivos secundários construir visões compartilhada dos possíveis futuros para o Brasil e para o mundo até 2040. Para tanto, serão compartilhadas megatendências e rupturas possíveis de ocorrência até 2040.
Nesse contexto, o evento está organizado em cinco bloco conforme listado a seguir dispostos segundo programação em anexo:
Bloco 1 – Abertura com a apresentação da Estratégia Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
Bloco 2 – Megatendências e rupturas internacionais
Bloco 3 – Megatendências e rupturas brasileiras
Bloco 4 – Oficinas de identificação de megatendências
Bloco 5 – Capacitação em Planejamento por cenários
Bloco 6 – Encerramento
Confira a programação e conheça os palestrantes no site do evento: 


São diversos os resultados esperados, dentre eles:
Lista de sementes de futuro (megatendências, incertezas-chave e rupturas) a serem estudadas e debatidas no âmbito da plataforma Brasil 2100 e do NEP-Mackenzie.
Compartilhamento de conhecimentos a respeito do futuro.
Produção para posterior divulgação de vídeos, PowerPoint, pôsteres e documentos de referência relacionados às apresentações realizadas.
Ampliação da rede de relacionamento relacionada a temática – Networking.


domingo, 25 de fevereiro de 2018

Proposta inicial de uma Teoria Geral da Inteligência Competitiva


A Inteligência Competitiva já comemora mais de 50 anos de existência tanto no que diz respeito a prática organizacional sistemática quanto a área de conhecimento científico, visto que os primeiros artigos científicos datam da década de 60, a exemplo dos artigos de Beauvois (1961), Guyton (1962) e Kelley (1965). Entretanto, até o momento sua Teoria Geral não havia sido explicitada, apesar de mencionada em alguns artigos científicos.

Em 2013, apresentei os resultados da minha tese que versava sobre os aspectos fundamentais da Inteligência Competitiva (Marcial, 2013), que propunha um desenho da estrutura científica da área.
Hoje compartilho o artigo “Proposta inicial de uma Teoria Geral da Inteligência Competitiva” publicado nesta semana na Revista Ciência da Informação, em seu número especial sobre Informação Estratégica (Marcial, 2018. Disponível em: <http://revista.ibict.br/ciinf>).

A estrutura científica que fornece suporte a essa Teoria Geral (Marcial, 2013 e 2018) e a própria Teoria Geral da Inteligência competitiva já estão refletidos na estruturação e fundamentação do MBA por Projetos Gestão da Informação e Inteligência Estratégica, ofertado pela Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, o qual terá início neste ano, sob minha coordenação em parceria com o prof. Fernando Fernandes.

Nesse contexto, convido-os, em especial os praticantes e pesquisado da área, a lerem o artigo e, juntos, aprimorarmos e consolidarmos uma Teoria Geral da Inteligência Competitiva. Bem como vido os profissionais da informação e estrategistas, ou interessados na temática, a se matricularem no MBA por Projetos Gestão da Informação e Inteligência Estratégica, link a seguir: http://brasilia.mackenzie.br/pos-graduacao/gestao-da-informacao-e-inteligencia-estrategica/.

Boa Leitura!

REFEREÊNCIAS
Beauvois, John J. International Intelligence for the International Enterprise. California Management Review, v. 3, n. 2, p. 39-46, 1961.
GUYTON, Willian J. A guide to gathering marketing intelligence. Industrial Marketing Management, p. 84-88, Mar., 1962.
Kelley, William T. Marketing Intelligence for Top Management. Journal of Marketing, v. 29, n. 4, p. 19-24, Oct., 1965.
MARCIAL, E. C.  Proposta inicial de uma Teoria Geral da Inteligência Competitiva. Ciência da Informação. Número especial. v. 45, n. 3, p. 59-75, jan./fev. 2018. Disponível em: <http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/4048>.
MARCIAL, E. C. Aspectos fundamentais da Inteligência Competitiva e a Ciência da Informação. Brasília: Universidade de Brasília, 2013. 252 f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Universidade de Brasília, Departamento de Ciência da Informação e Documentação: Brasília, 2013. Disponível em:  ormação e Documentação: Brasília, 2013. Disponível em: < http://repositorio.unb.br/handle/10482/15207

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Brasil 2100: é possível olhar tão longe?

Para responder a essa pergunta temos que ter um entendimento do que é “olhar tão longe”. Se for imaginar um ou vários cenários possíveis a resposta é sim. Mas se for para tentar fazer uma previsão, a resposta é não. Isso porque se não temos condições de afirmar, com certeza, como será amanhã, quanto mais daqui a 83 anos.

No entanto, seria difícil utilizar os métodos tradicionais de construção de cenários para construir imagens em um horizonte tão distante, visto que, até mesmo as tendências de peso existentes atualmente, provavelmente não se manteriam como tendências em um horizonte tão distante. O processo teria que ser mais criativo, usando a imaginação para construir essa visão de futuro. Um processo que seja capaz de romper com as amarras do presente e exercer uma imaginação semelhante às das crianças quando criam mundos e personagens quando brincam.

Por exemplo, em 2010, quando minha neta tinha 5 anos perguntei como seria o futuro e ela respondeu: “vamos voando para todo lugar sem avião, vou criar meus brinquedos em casa, vou entender tudo que todos falam, mesmo os desenhos que falam diferente e todos nós vamos passar mais tempo juntos”.

Vocês conseguem imaginar esse futuro? Máquinas voadoras para curtas distâncias; impressoras 3 D, imprimindo os brinquedos e tudo mais; tradução simultânea; e redução da jornada de trabalho. Será que o futuro será muito distante do que ela imaginou?
Mas para que serviria olhar tão longe?

Muito simples, para imaginarmos, por exemplo, saídas para a crise atual. Quando conseguimos sair de dentro do problema e analisamos ele do lado de fora, as soluções emergem. Em 2100, poderemos estar até passando por uma crise, mas certamente não será a mesma vivida hoje. Os desafios serão muito diferentes. Além disso, olhando para horizontes distantes conseguiremos também enxergar o que será realmente importante e teremos condições de abandonar projetos do passado para investirmos no que será importante no futuro e, assim, resolvermos efetivamente os problemas atuais saindo do looping de que nos leva a correr o tempo todo atrás do prejuízo.

Entretanto, para olharmos horizontes tão distantes temos que tomar algumas precauções, como por exemplo:

Checar se estamos sendo realmente criativos. O uso de nossa imaginação é chave, mas, as vezes podemos desenvolver pontos cegos e cairmos na armadilha da projeção de situações no presente ou da realização de simulações dessas situações, repetindo, assim, o mesmo modelo existente hoje que poderá não existir ou se viável no futuro. Pense: se projetássemos o mundo de 1924 para 2017, os cidadãos daquela época seriam capazes projetar o mundo que vivemos hoje? Em 1924 nem se imaginava, por exemplo, a existência da internet, não fazia parte nem dos projeto do Departamento de Defesa americana, berço da internet.

Desprender-se do momento atual. Procurem não ficar presos aos problemas que enfrentamos hoje, mas imaginar como as nossas necessidades serão atendidas no futuro, independentemente do existente hoje. 

Imaginar histórias de futuro que auxiliem no processo decisório. Lembrem-se o tempo todo que nosso objetivo não é acertar o que irá acontecer, mas imaginar possibilidades de futuro que nos ajudem a fazer apostas. Apostas essas com foco no futuro que nos ajudem a resolver ou eliminar problemas existentes hoje. 

Checar se a imagem a respeito do futuro é passível de ocorrência. Mesmo sendo um processo criativo, onde a imaginação deve fluir e possibilitar vislumbrar rupturas, essas rupturas devem ser passiveis de ocorrência no horizonte temporal. Apesar da grande expansão das TIC e da banda larga, será possível afirmar que toda a população mundial terá acesso à internet em 83 anos. Estudos estimam que provavelmente até 2050 toda população residente na área agrícola dos países desenvolvidos terá acesso a internet. Hoje eles não têm. Estimam também que, provavelmente metade da população mundial também terá acesso a internet até 2050. Segundo estudos, a falta de acesso à energia elétrica, a computadores ou smartfone e o analfabetismo, inclusive digital, são fatores que impedem tal avanço. Logo, para que toda a população mundial tenha acesso as TICs, teremos que resolver esses outros problemas também. Há tempo e recursos suficientes para tal? Lembrem-se, as histórias devem ser consistentes e coerentes, caso contrário perdem credibilidade e não vão auxiliar no processo decisório e, principalmente de investimento. T

Ter bom senso. Não podemos esquecer do bom senso. Lembrem-se que a tecnologia pode avançar, mas mudanças no comportamento humano são questões mais difíceis e muitas vezes levam tempo para que a mudança ocorra. Por exemplo: será que em 83 anos ou mesmo em 100 anos o crime irá desaparecer? A corrupção não mais existiria? 

Mostrar a evolução dos acontecimentos. Mesmo sendo algo que não existe hoje, é importante descrever como se passou da situação atual para a futura. Há necessidade de mostrarmos que isso é possível, mesmo que para isso tenhamos que desenvolver novo conhecimento. Os filmes de ficção científica fazem isso muito bem. 

Tomar cuidado com as tecnologias existentes hoje que têm grande força e amplitude de uso, principalmente as que apresentam sinais de substituição. Por exemplo, as tecnologias que suportam as telecomunicações estão migrando para as das redes de comunicação, sendo assim, em 83 anos ainda teremos sistemas de telecomunicação como conhecemos hoje funcionando? O uso do petróleo como combustível está sendo questionado e em vários países sofrendo processo de substituição. Será que em 2100 ele continuará como principal combustível a ser utilizado pelos meios de transportes? 

Estar atento quanto aos atores. Tomem muito cuidado com os atores, suas responsabilidades ou “dever ser”, pois podem se alterar em horizontes distantes e suas funções podem, inclusive, desaparecer, o que acarretaria a inexistência desse ator no futuro. Entretanto, outros que não existem hoje em dia ou possuem pouco poder de atuação poderão se tornar protagonistas no futuro. Lembrem-se que muitas profissões existentes hoje deixarão de existir e outras que nem imaginamos estarão em ampla expansão. Por exemplo, em 1924 ninguém saberia dizer o que seria ou o que faria um operador de telemarketing e no futuro, provavelmente, esse profissional não mais existirá e ninguém conseguira descrever suas atividades. Ou mesmo questionar: tinha gente que exercia essas funções? 

Não fazer uso de observações vagas. Vocês estão contando uma estória, logo o leitor deve ser capaz de imaginar o futuro e de criar essa imagem. Se a redação for vaga não será possível imaginar. 

Utilizar os verbos nos tempos verbais do passado e do presente. Tomem cuidado com o uso dos verbos, vocês já estão no futuro, logo os verbos devem ser escritos no passado e no presente. Nunca no futuro ou no condicional. Evitem também o uso de expressões como: provavelmente, há chances etc. Lembrem-se que como as histórias a respeito do futuro são contatadas a partir do futuro, os eventos já ocorreram, logo não há dúvidas quanto sua ocorrência. São histórias e não previsões o que estamos redigindo. 

Descrever relações de causa e efeito que façam sentido e checar essas possibilidades. Tomem cuidado com as relações de causa e consequência. Lembrem-se que o ambiente é complexo e quanto mais avançamos, mais complexo ele se torna, pois temos mais conhecimento sobre ele. Ao alterarmos o curso dos acontecimentos, teremos que analisar os impactos nas demais variáveis visto que o mundo, ou qualquer tema que formos criar imagens a respeito do futuro se comporta como um sistema complexo.

Espero que essas dicas sejam úteis.

Elaine C. Marcial

domingo, 19 de novembro de 2017

A palavra de ordem é Disrupção. Sua organização está preparada?

Big data, CLOUD computer, internet das coisas, inteligência artificial, inteligência ampliada, realidade ampliada, robótica, bitcoin e blockchain, carros autônomos, novos materiais advindos da nano e da biotecnologia, impressão 3D, em um contexto de mudanças demográficas, empoderamento dos indivíduos, novas relações de trabalho, mudanças climáticas, ampliação dos fluxos migratórios, escassez de água, terrorismo e ataques cibernéticos.
Esses exemplos, de como a vida no futuro poderá ser diferente da de hoje, exigirão das organizações públicas adaptação rápida para que possam cumprir seus propósitos, mantendo-se vivas e preservando seus espaços perante seus clientes e a sociedade. Quem não romper com o passado não terá espaço no futuro.
É importante que se compreenda as possibilidades de futuro que ora se apresentam para que se possa pensar em inovações disruptivas e fazer as melhoras escolhas. Para tanto, é preciso ter coragem em admitir que muito do que se faz hoje não terá serventia alguma no futuro. E que grande parte das necessidades do amanhã sequer foram imaginadas.
Partindo-se do princípio de que o futuro é múltiplo e incerto e muda a todo o instante, é necessário que, além de realizar o monitoramento constante do ambiente, evitando surpresas e o desenvolvimento de pontos cegos, é preciso desenvolver uma estratégia revolucionário e disruptiva, que promova o rompimento com os paradigmas do passado.

Você está preparado? E a sua organização? Que competências serão necessárias? 
É premente buscar essas respostas e mais do que se preparar para o futuro, se posicionar como construtor do futuro.
Elaine C. Marcial